Fotos: Vinicius Becker (Diário)
A violência doméstica, muitas vezes, assemelha-se a uma teia de aranha: cada fio representa uma forma de controle, agressão ou limitação que envolve mulheres em um ciclo difícil de romper. Essa metáfora foi apresentada pela juíza Madgéli Frantz Machado, do Juizado de Violência Doméstica de Porto Alegre, durante a 6ª reunião regional do projeto Cevid Itinerante, realizada na manhã desta sexta-feira (31), em Santa Maria.
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O encontro, promovido pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS), reuniu profissionais da Justiça e da rede de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher. O objetivo é fortalecer a articulação entre municípios e a Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar (Cevid).
Grupos reflexivos e parcerias fortalecem a rede
Durante sua apresentação, Madgéli destacou a importância dos grupos reflexivos de gênero como ferramenta para romper a teia de violência. Esses grupos oferecem aos homens a oportunidade de compreender questões de gênero e aprender a construir relações mais saudáveis. Conforme a juíza, 60 comarcas gaúchas já contam com grupos reflexivos entre as ações de trabalho. Santa Maria entra nessa lista.
– Os grupos reflexivos de gênero são uma ferramenta potente no enfrentamento à violência contra a mulher. É um espaço para que o homem reflita sobre as questões que o levaram ao Judiciário e, por meio da escuta e do diálogo, aprenda a construir relações sem violência. Trabalhamos aspectos como direitos humanos, igualdade de gênero e formas de resolver conflitos de maneira saudável, rompendo um ciclo que muitas vezes é transgeracional – disse a juíza.

Além disso, a especialista ressaltou a relevância das parcerias com escolas, universidades, empresas e instituições sociais. Conforme ela, programas de capacitação, bolsas de estudo e oportunidades de inserção no mercado de trabalho fortalecem a rede de apoio às mulheres:
– O contexto da violência doméstica envolve não só as mulheres, mas também filhos e familiares. A sociedade precisa agir de forma ampla, fortalecendo a rede de prevenção e enfrentamento.
Cevid Itinerante aproxima municípios e rede de enfrentamento
Para Tais Culau de Barros, que está à frente da Coordenadoria Estadual das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar do TJRS, o Cevid Itinerante é uma forma de levar as iniciativas da coordenadoria aos municípios do Interior, onde a articulação da rede enfrenta mais desafios. Questionada sobre o desafio do combate a violência doméstica no Estado, ela citou a transformação da cultura machista e desigual que sustenta as práticas de violência:

– O combate à violência doméstica só se dá com esse trabalho em rede. Mas o maior desafio é mudar a cultura que permite a violência, combatendo a desigualdade de gênero e o machismo estrutural que ainda persistem na sociedade. Precisamos trabalhar com as escolas para que meninos e meninas cresçam em igualdade, e assim reduzir os números de violência que, infelizmente, ainda são muito altos.
Experiência local inspira novos caminhos

O juiz Rafael Pagnon Cunha, titular do Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Santa Maria, enfatizou que encontros como o Cevid Itinerante inspiram outros municípios a aprimorar suas estratégias de enfrentamento. Na oportunidade, também destacou ações já realizadas em Santa Maria como o Centro de Referência da Mulher (CRM), a Casa Abrigo Maria Madalena e o programa Jogo de Cintura, da Rádio CDN, que, a cada 10 programas, um aborda o tema com a participação de especialistas.
– Encontros como este permitem compartilhar experiências, reforçar a comunicação social sobre violência doméstica e apontar caminhos para enfrentar essa causa de forma integrada, educativa e eficaz – explicou o magistrado.
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